A cena é comum: celulares em mãos, olhos fixos, rolagem infinita. Mas o que parece inofensivo ou até educativo esconde riscos profundos quando falamos do desenvolvimento infantil. Pesquisas recentes mostram que a hiperconexão está associada a um aumento preocupante de transtornos mentais entre jovens — e o alerta vem de todos os lados: educadores, médicos, psicólogos e famílias.
Na Maple Bear Alphaville, o tema tem sido pauta constante de diálogo com pais e responsáveis, como na recente palestra do especialista Rafael Luz. E o que os dados revelam é urgente.
Uma epidemia silenciosa: mais telas, mais ansiedade
Segundo o psicólogo e autor Jonathan Haidt, em seu livro A Geração Ansiosa, os índices de depressão, ansiedade e automutilação dispararam a partir de 2010 — exatamente quando os smartphones e redes sociais se tornaram populares entre os mais jovens.
“Nunca na história houve uma mudança tão abrupta na infância. As redes sociais transformaram a adolescência num laboratório sem supervisão.” — Jonathan Haidt
- Em 2009, 13% das meninas nos EUA relataram episódios de depressão grave.
- Em 2019, esse número chegou a 25%.
- Casos de automutilação entre meninas de 10 a 14 anos aumentaram em mais de 150%.
- Jovens que passam mais de 3 horas por dia nas redes sociais têm duas vezes mais chances de desenvolver transtornos mentais【A Geração Ansiosa】.
No Brasil, a tendência se repete: 45% dos jovens entre 15 e 29 anos com sintomas de ansiedade associam isso ao uso excessivo das redes sociais, segundo o Instituto Cactus e AtlasIntel (2023).

Cérebro em formação e superestimulado
Durante a infância e adolescência, o cérebro está em construção. E o excesso de estímulo digital:
- Prejudica o sono (exposição à luz azul)
Afeta o foco e a memória - Reduz a tolerância à frustração
- Inibe o desenvolvimento emocional e social
O uso sem mediação também dificulta a construção de vínculos reais, estimula comparações tóxicas e abre espaço para cyberbullying e crimes como o grooming.
Guia prático por faixa etária: do infantil ao ensino médio

O objetivo não é proibir, mas educar, mediar e proteger. Confira as orientações por fase escolar:
Educação Infantil (2 a 5 anos)
- Evitar telas antes dos 2 anos
- Até 1h/dia com supervisão ativa
- Incentivar atividades motoras, jogos simbólicos e brincadeiras livres
- Evitar vídeos de rolagem automática (ex: YouTube Kids, TikTok)
Ensino Fundamental – Anos Iniciais (6 a 9 anos)
- Até 2h/dia de uso recreativo
- Instalar e usar controle parental
- Estabelecer momentos sem tela: refeições, hora de dormir, manhãs
- Conversar sobre o que é privado e o que não deve ser exposto
Ensino Fundamental – Anos Finais (10 a 14 anos)
- Definir regras claras para redes sociais
- Ensinar sobre privacidade e segurança (MFA, seguidores reais)
- Criar um “acordo digital” em família
- Equilibrar tempo de tela com atividade física e vida offline
Ensino Médio (15 a 17 anos)
- Focar em autonomia com responsabilidade
- Estimular pausas conscientes e consumo crítico
- Falar abertamente sobre saúde mental, autoestima e influência das redes
- Incentivar curadoria do próprio conteúdo: quem sigo, por quê, como me sinto depois?

A tecnologia pode ser aliada — com presença e equilíbrio
Pais presentes, que supervisionam sem invadir e mantêm o diálogo aberto, conseguem transformar a tecnologia em ferramenta e não em armadilha. Mais do que controlar, é preciso ensinar os jovens a pensar sobre o que consomem — e a escola é parceira nesse processo.
Fontes:
- A Geração Ansiosa, Jonathan Haidt (Companhia das Letras, 2024)
- Instituto Cactus & AtlasIntel, 2023
- Rafael Luz | Guardião Escolar – www.guardiaoescolar.com.br